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quarta-feira, 28 de maio de 2008

AVÉ TERRA


Avé Terra,
cheia de graça
quem dentro passa
que lhe oiço o canto?

Avé Terra,
cheia de encanto
quem dentro encerra
que eu amo tanto?

Avé Terra
santa,
Maria,
Nó na garganta
tanta alegria

Avé Terra
misteriosa
banida, erra
e é tão formosa…

Avé Terra
escondida, chora
por nós espera
a toda a hora…

Avé Terra
nocturna e escura
luz que se enterra…
Quem a procura?

Avé Terra
nem sei falar
o nó se cerra
por tanto amar

Avé Terra
nua mãe fada
sei que sou tua
não sei mais nada

In Avé Terra – Mª Luísa Barreto, Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson





SENHORA MÃE FADA


Vejo-a descer o Monte
Branca Senhora ao luar
É ela a fada da fonte
É ela que ouvi cantar

um canto lindo e secreto
no canto dos passarinhos
que eu estava ouvindo ali perto
no entrecruzar dos caminhos

Nossa Senhora Mãe Fada
conheço a tua morada
descendo a escada em espiral

para um mundo transparente
e o som de estrelas se sente
numa gruta de cristal

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra







PIRILAMPOS

Pirilampos
lâmpadas de fadas
Brilham nos campos
pontes encantadas
Pulam
pululam
pontinhos de luz

E a luz
reduz…
fica apagada
Minha atenção
apalpa o chão
apalpa o nada…

Pirilampos
na Terra acordada
Estrelas nos campos
Não estou separada
Uniu-se a Terra
a mundos de luz

E a luz
seduz
mais alargada
Minha atenção
é coração
da Terra amada

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra

PROSERPINA



(…)
Proserpina lá vem vindo
Ai como o dia está lindo
Ai lá vem ela a cantar
Cantando breves cantigas
Bailando com as amigas
Leves como bolhas de ar

Proserpina Primavera
Ai que alegre que a Terra era
Semeadinha de cores
Com malmequeres e junquilhos
Violetas e tomilho
E tantas outras mil flores

Com grinaldas coloridas
De malvas e margaridas
Se enfeitavam as donzelas
E lá vão bailando e rindo
Pelas colinas subindo
Proserpina vai com elas
(…)

In Em Tempos Que Já Lá Vão - Mª Luísa Barreto, Centro Lusitano de Unificação Cultural


GNOMOZINHO DA SERRA


Eu vi um gnomozinho
que ia rentinho ao chão
Perguntei-lhe mansinho:
- Aonde vais sozinho?
Posso saber, ou não?

- Vou subir esta Serra
onde as estrelas brilham mais
Quando a luz chega à Terra
a guardo nos cristais.

Adeus, vou trabalhar
Há muito que fazer
Há que os cristais limpar
para mais luz haver!

Depois desapareceu
e eu nunca mais o vi
Mas se há estrelas no céu
sei que ele está aqui.

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra

ALICE, ALICE


Alice, Alice
Ela me disse
por onde hei-de ir
Por toda a estrada
iluminada
que eu descobrir

Que eu não me apoquente
se de repente
a luz faltar
Andar no escuro
não é tão duro
se se cantar !

Mas ai, Alice, Alice
Se alguém me visse
assim a ir…
Tropeço e caio
Só daqui saio
se souber rir…

Se eu não caísse
talvez não visse
o chão brilhar…
Vou aprendendo
que o que vou vendo
pode mudar…

Alice, Alice
diz que é tolice
tudo saber
Cada momento
é vivo e tento
mais aprender

Por isso Alice
sempre me disse
para eu brincar
Fazer de conta
não é ser tonta
é experimentar

- Alice, Alice…
É criancice
tanto arriscar!...
Não pode ser!...
Vais-te perder!...
Vives no ar!...

E Alice riu
E o Céu se abriu
para ela entrar

In Em Cantos da Serra da Lua
Mª Luísa Barreto,
Câmara Municipal de Sintra





NO SILÊNCIO


Meu Anjo me sorriu nesta leveza
das folhas flutuando pelo ar.
E foi assim
que enfim
tive a certeza
que no silêncio se liberta a alma presa
um pouco já cansada de lutar

Meu Anjo me falou devagarinho
no silêncio da tarde tão dourada.
E era longa
a sombra
no caminho.
E tão quieta a luz,
tão habitada.

In, Pelo Caminho das Fadas - Mª Luísa Barreto, Centro Lusitano de Unificação Cultural



Cantiga de Embalar



Era uma vez um menino
Que tinha vindo do Céu
E a sua mãe com carinho
Em si fez um ninho
Onde o recebeu

Era uma vez um menino
Que tinha vindo do Sol
E tinha o cabelo dourado
E encaracolado
Como um caracol
Era uma vez um menino
Vindo da estrela a brilhar
Seu olhar era divino
Vinha p’ra nos guiar

Era uma vez um menino
Que tinha vindo da Lua
Era ainda pequenino
De pele tão branca e tão nua

Era uma vez um menino
Que chegara à Terra-Mãe
Nós lhe cantamos um hino
Que o seu ser divino
Para a Terra vem

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra

TODA A BRUXA


(…)
Toda a bruxa, por vingança
contra a princesa se lança
Ei-la, ei-la que lá vem!
Lá vem ela na vassoura
que ela monta quando agoura
Toda a bruxa guincha e estoura…
…se o feitiço sair bem…
Mas não é o fim da história
Sei de uma velha memória
contada por não sei quem
Diz que uma bruxa ao estoirar
se mistura com o ar
que toda a gente respira
Que ela fica sem ficar
que se tira e não se tira…
E, por isso,…
diz que toda a gente é bruxa
e toda a bruxa é princesa
É conforme a gente puxa
pela nossa natureza

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra

PAÍS DE OIRO




Longe, longe, longe daqui
num país de oiro
que eu nunca vi
soam vozes na folhagem
espreitam gamos
entre os ramos
dançando na aragem

Nunca, nunca, nunca tem fim
este tesouro
dentro de mim
Verde, verde, verde paisagem
para além do verde
nasce outra imagem

Branco, branco, branco e dourado
voa meu Anjo,
meu Anjo alado
Longe, longe, longe daqui
num país de oiro
que eu nunca vi

In Em Cantos da Serra da Lua – Mª Luísa Barreto, Câmara Municipal de Sintra